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A PRESENÇA DA CHINA E DA ÍNDIA EM ÁFRICA : Uma Perspectiva Económica

  • Foto do escritor: Breno Baptista Flor
    Breno Baptista Flor
  • 2 de out.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 23 de out.

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 ​A China e a Índia, ocupam posições de destaque no cenário internacional e no sistema econômico-financeiro. Os dois países pertencem à parceria estratégica mais evidente e robusta do sul Global que coopera em variados domínios de interesse comum: o bloco BRICS, também composto por outras potências médias, como o Brasil, África do Sul e a Rússia. Apesar de uma longa e extensa agenda de cooperação, os dois países possuem rivalidades históricas mesmo tendo uma grande participação na economia mundial. As duas potências disputam cada vez uma maior presença no continente asiático, e gozam de um estatuto de potências regionais. A China, no leste e sudeste asiático, e a Índia, no Sul da Ásia, têm aumentado os seus níveis de investimentos diretos nos seus países vizinhos, financiando projetos de infra-estrutura, o que aumenta a presença empresarial dos seus respectivos países cada vez mais nestes países e territórios. Atualmente, os dois países estão entre as três maiores economias do mundo. Medindo os seus produtos internos brutos por paridade de poder de compra, a China está em primeiro lugar e a Índia em terceiro. Também têm as maiores populações do mundo e uma classe média emergente com um amplo poder de compra e uma enorme capacidade de produção que tem desdobrado inúmeros estudos sobre os mesmos.

 

A presença em África pelas duas potências emergentes não se prende ao recente século, pelo contrário, ela vem muito antes dos países africanos tornarem-se independentes, efetivamente, apoiando os movimentos de libertação durante o período da descolonização, norteados pelos princípios de de Bandung.[1] A dependência econômica e as relações neocoloniais que os países africanos têm contraído no pós-guerra fria, abre um amplo leque de possibilidades de países como a Índia e a China, bem como outras potências emergentes para reconfigurarem e apostarem em uma diplomacia econômica mais satisfatória e para que as suas necessidades possam ser satisfeitas. Porém, o continente africano, possui uma enormes particularidades de mercado que atraem qualquer investidor e parceiros econômicos nacionais: primeiro, por ser uma fonte inesgotável de hidrocarbonetos, minerais e recursos hídricos, segundo, porque que possui mercados emergentes, semelhantes às características chinesas e indianas como uma população economicamente ativa e que procura pela profissionalização de serviços fornecidos, e terceiro, por possuir uma população relativamente jovem e aderente a novas dinâmicas econômicas, tecnológicas e culturais.[2]

 

O continente africano, tem em si uma gama de setores que carecem de investimentos, principalmente aqueles estruturais e basilares a qualquer crescimento econômico: a infra-estrutura, que possibilitará estes países a internacionalizarem cada vez mais os seus produtos de forma eficiente, sem depender de outras nações, muitas delas alheias ao continente. Um ponto de extrema importância trata-se da modificação de modelos de relações econômicas com as duas potências emergentes, de forma a não se tornarem numa monodependência que corresponda a um desafio que as duas nações terão de enfrentar, ou de alguma forma já enfrentam, desmistificando a ideia de que as neo-relações com os países africanos se desvincula de protótipos de centro-periferia ou de extração de recursos, em troca de produtos de baixo valor agregado, de segundo uso ou de baixa qualidade; os famosos made in China ou made in India. [3]

 

 

A Índia e a China remetem os seus alicerces de cooperação com base nos cinco princípios de Bandung,[4] nos quais a preservação da soberania e independência dos Estados, bem como a liberdade diplomática, coexistência pacífica, direito de defesa mútua e individual, devem primar no sistema internacional. Em matéria econômica, a cooperação sul-sul, vem desintegrando entre os Estados, formas de relações econômicas baseados no primado centro-periferia, em que o norte-centro, com um imensurável superávit na balança de pagamentos e acúmulo de capital, domina o sul periférico, usando-o para extração de recursos, mão de obra barata e como mercado consumidor. Tudo isto é alimentado pela teoria mercantilista. O colonialismo, e as políticas das grandes potências ocidentais deram acesso livre à China e a Índia de entrar no continente africano com um retrato diferente desses mesmos, porque são países que estiveram sob jugo colonial europeu, no caso da Índia, e sofreram represálias da realpolitik das grandes potências, no caso da China. O segundo motivo, está relacionado á uma adoção de uma soft power entre os dois países, em que muitos países africanos têm adotado modelos econômico-políticos que vigoram nessas potências emergentes, além de que um sistema de consultas públicas no âmbito econômico tem sido firmado em vários acordos entre a China e a Índia.

 

O mundo dividido entre doadores e receptores, fez com que o continente africano mergulhasse numa ampla linha de dependência, isto devido às instituições de Bretton Woods, criadas em 1944, e à criação do CAD, que mais tarde integraria a OCDE, e neste referido momento, a China e a Índia passavam por momentos cruciais nas suas histórias. A Índia, em 1947, estava no seu processo de descolonização, e a China, proclamava em 1949, o seu triunfo contra o partido nacionalista, inaugurando a República Popular da China. Os países Africanos, sofreram ajustes estruturais deflacionários, sob vigia do FMI,[2] coagindo o continente africano, em crise, a seguir obrigatóriamente políticas neoliberais, como redução da carga tributária e fiscal, cortes orçamentais, medidas de austeridade e aumento de preços de produtos, sobretudo commodities, que muitas das vezes reduziram o receituário destes países. Esta política também foi adoptada por países europeus diante dos países africanos mais pobres, sobretudo na África Ocidental e Central.[5]

 

A cooperação dos dois países em relação ao continente africano tomou proporções diferentes em relação às instituições e iniciativas de investimentos, de forma a determinar o sucesso e a expansão da malha investidora. De um lado a China, com empresas estatais e bancos estatais, com linhas de crédito e investimentos diretos, fora os programas de ajuda externa, já a Índia teve um fórum mais privado e bancos também privados.[2] O sucesso maior da China está atrelado diretamente às políticas e reformas institucionais que buscam a ampliação e a internacionalização de mercado, diferente do que se pensa sobre a intervenção estatal e políticas econômicas chinesas. Porém, a Índia levou a cabo fortes expansões das suas empresas privadas, através de câmaras de comércio e cimeiras de coordenação de cooperação em matérias  econômicas.  

 

O soft power, permitiu que os dois países aprofundassem as suas relações econômicas, a partir da lógica de ascensão pacífica, respeito aos Estados e às suas organizações soberanas. Países como  China, Índia e Vietname, têm se tornado em modelos adotados por países africanos para incorporar políticas destes países em setores específicos, permitindo a transferência de tecnologia, mão de obra, infra-estrutura e modelos para aceleração do crescimento econômico.  Importante mencionar que estas iniciativas e projetos chineses e africanos, permitem a internacionalização da moeda entre os dois países e o continente africano.[6] Com estes projetos, a China e a índia com o enorme alicerce econômico, têm a primazia de participarem no sistema econômico mundial.

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